O quadro Filho da Puta

Quando eu era pequeno, via um quadro como esse na casa antiga da minha avó e achava engraçado o título estampado sem rodeios: Filho da Puta. Nunca perguntei para ninguém de onde tinha vindo e o que significava. Mas recordo de pensar que era uma crítica social, antes de eu saber que existia a expressão “crítica social”. Aquele cara todo soberbo em cima de seu cavalo seria de uma elite dominadora, um homem branco que deveria explorar milhares de trabalhadores para poder trotar solenemente em dia claro com uma montaria de alto padrão. Enfim, um filho da puta.

Vendo hoje outra gravura antiga de homem-sobre-cavalo, lembrei do filho da puta. Pesquisei no Google e encontrei o retrato da lembrança. Encontrei também a história, e, para minha consternação, descobri que filho da puta era, na verdade, o cavalo.

No começo do século 19, o senhor William Barnett possuía em seu haras, na Inglaterra, uma égua a quem havia dado o nome de Mrs Barnett, em homenagem a sua amada esposa. Em 1812, calhou de essa égua ter cria bem quando sua esposa o havia traído e abandonado. A raiva sobrou para o potro, que foi batizado – de novo – em homenagem a ela. Mas não son of a bitch: filho da puta em português mesmo! O senhor Barnett havia estudado em Portugal e conhecia o idioma. O nome Filho da Puta foi aceito porque os comissários responsáveis pelo registro não sabiam o que significava.

O animal foi comprado por um competidor e tornou-se célebre, ganhando muitas corridas até se aposentar por lesão em 1818. Viveu até 1835.

A imagem que o imortalizou foi pintada por John Frederick Herring em 1815, virou gravura, foi para a parede da minha avó e veio chegar até aqui. É difícil se livrar de um filho da puta.

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