O QUE APRENDI SOBRE A LONGEVIDADE AO ESCREVER MEU ROMANCE
Quando Chico Anysio estava doente, com pouco tempo de vida, deu a seguinte declaração em uma entrevista: “Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho pena.”
Não é difícil compreender o sentido dessa declaração. Chico Anysio foi um artista, um grande criador: homem que trabalhou a vida inteira escrevendo e atuando, aprendendo novas maneiras de fazer humor, elaborando mais e mais personagens, construindo, enfim, não somente um invejável repertório, mas uma história atrás de si. Dá pena de morrer: pena de enterrar toda essa experiência única de vida, esse talento, essa ânsia de brincar e descobrir.
Meu campo de pesquisa não tem relação com a expectativa de vida, na verdade. A expectativa de vida é um valor médio, que vem aumentando muito nos últimos cem anos em decorrência do saneamento básico e das descobertas mais fundamentais da Medicina, como os antibióticos e as vacinas. Mas o tempo de vida possível não se alterou. Por exemplo: há dois séculos já existiam pessoas que passavam de cem anos, porém eram poucas. Em um mundo onde tanta gente morria antes dos quarenta ou mesmo dos trinta anos de idade, a média acabava sendo baixa. Ou seja, o fenômeno que estamos observando agora é que cada vez mais gente sobrevive por várias décadas, o que aumenta a média geral.
Mas foi no século XX que as tentativas começaram a ser, pelo menos até certo ponto, mais científicas. O neurologista britânico Brown-Séquard, no fim do XIX, foi o primeiro a falar em “rejuvenation”, chegando a tomar extratos de testículos de certos animais com o propósito de viver mais tempo. O fisiologista Eugen Steinach prosseguiu nessa linha, transplantando testículos de macacos em homens — e homens célebres: Yeats, e mesmo Freud, foram steinachados. Os cientistas envolvidos nessas experiências se tornaram importantes para a história da medicina, pioneiros da endocrinologia. Os procedimentos eram coerentes com seu tempo — mas foram esquecidos.
Houve um debate intenso sobre se existe ou não uma necessidade de morrer, no aspecto evolutivo. Ou seja, sobre se a morte do indivíduo é boa ou não para toda a espécie.
Para o biólogo August Weismann, “morrer é um sacrifício que cada geração deve fazer pela próxima”, pois a morte elimina os indivíduos em um tempo médio depois do qual eles já se tornaram ruins para a espécie.
Mas Peter Medawar, vencedor do Prêmio Nobel, contestou essa análise apontando que a seleção natural se aplica apenas aos indivíduos ainda jovens. Sendo assim, não existe uma razão evolutiva para o envelhecimento. Ele pode ser enfrentado sem, a princípio, nenhum grande risco biológico para a espécie.
Nem mesmo é necessariamente natural que um ser vivo pereça. A incrível hydra, que é considerada imortal, demonstra essa tese. Em quatro anos, cada indivíduo dessa espécie repõe seu corpo inteiro cerca de sessenta vezes.
A ideia fundamental dos combatedores do envelhecimento é tratá-lo cientificamente como uma doença, que talvez possa ser curada.
O biólogo Robin Holliday, que faleceu no início de 2014, não achava essa perspectiva razoável. Para ele, existem tantas coisas simultâneas que causam o envelhecimento que essa batalha seria como a luta de Hércules contra a Hidra (falando agora da criatura mitológica): são cabeças demais para matar, e nascem duas para cada uma que se corta.
Mas nem sempre objeções teóricas permanecem vivas na prática. Os pesquisadores da imortalidade descobriram que o envelhecimento é causado, em essência, pelo grande acúmulo de lixo dentro das células, material que vai se juntando com o passar dos anos e prejudicando o funcionamento normal do organismo. Aos 50 anos de idade, por exemplo, 20% de determinadas células oculares já são lixo.
Essa limpeza celular é o principal foco atual dos pesquisadores que não desejam morrer. Ferramentas de clonagem e até o uso de nanorobôs estão sendo experimentados para essa tarefa. Serão bem-sucedidos?
Aubrey de Grey espera, pelo menos, que as pesquisas nos tragam algum saldo de vida. Não é necessário criar, de uma vez, a pílula dos mil anos: se cada 10 anos de pesquisa nos concederem pelo menos 11 a mais de vida saudável, entraremos num círculo virtuoso que poderá nos levar a um tempo indeterminado de existência.
Esse assunto fascinante me estimulou a escrever meu primeiro romance, A vida longa dos vermes, que imagina como um cientista brasileiro dos tempos atuais realizou uma grande descoberta contra o envelhecimento e relata os fatos inacreditáveis que se sucederam.
Esse romance está passando por uma etapa de financiamento coletivo no site catarse.me. É uma tendência importante, que provê mais independência e mais retorno para os autores!
Quem decide o que vai acontecer no mercado é você, leitor. O romance será lançado?
Entre neste link e saiba como funciona: catarse.me/vidalonga.